O Trust Barometer é uma pesquisa realizada anualmente pela empresa Edelman, que tem como objetivo avaliar o índice de confiança da população nas instituições. A edição mais recente foi aplicada em 28 países, contou com 33 mil entrevistas e foi completada no final de 2016.
No texto de apresentação da pesquisa os organizadores dizem que 2016 foi um ano atípico, quando 5 dos 10 mandatários ou partidos das nações mais importantes foram depostos ou derrotados (Brasil, Itália, Coréia do Sul, Inglaterra e Estados Unidos). Falam dos escândalos de corrupção no Brasil e concluem que 2/3 dos países pesquisados hoje são “distrusters” ou “desconfiados”, o que aponta para uma profunda crise de confiança em escala global.
Era de se esperar, não é?
E eles concluem dizendo que “conforme a confiança nas instituições decai, os conceitos básicos de justiça, valores compartilhados e igualdade de oportunidades que tradicionalmente são sustentados pelo ‘sistema”, não são mais garantidos. Observamos uma profunda desilusão da esquerda e da direita, que compartilham uma oposição à globalização, inovação, desregulação e instituições multinacionais. Há um desespero crescente em relação ao futuro, uma falta de confiança na possibilidade de uma vida melhor para nossas famílias.”
A pesquisa apontou que apenas 15% da população acredita que o presente sistema está funcionando, contra 53% que acreditam que não e 32% que não tem certeza. E esse descrédito é o campo fértil para o surgimento de movimentos populistas que se alimentam do medo. Perto da metade do que a pesquisa classifica como “público informado”, adultos entre 25 e 64 anos de idade com educação superior, entre os 25% de melhor renda e que consomem as mídias, afirma ter perdido a fé no sistema.
A confiança na imprensa caiu em 82% dos países pesquisados, estando no ponto historicamente mais baixo em 17 deles.
Dois terços da população perdeu a fé na capacidade de seus líderes de resolver os problemas que se apresentam. E leia isto: “ Uma pessoa comum tem hoje tanta credibilidade quanto um acadêmico ou um técnico especialista, e mais credibilidade que um CEO ou representante do governo, o que implica numa mudança do eixo da comunicação, que agora é horizontal, de indivíduo para indivíduo, evidenciando a dispersão da autoridade em direção aos amigos e à família.”
Os números do Brasil são especialmente preocupantes na pesquisa, cujo resumo pode ser visto aqui: http://www.edelman.com/executive-summary/ .
Muito bem. Essa pesquisa da Edelman me voltou à memória ontem, quando vi em todos os canais de televisão a imagem de Emilio Odebrecht contando como sua empresa se envolveu no maior escândalo de corrupção da história da humanidade, ao comprar parlamentares, manter relações espúrias com o poder central e, em certa medida, definir nos porões dos palácios os rumos de nosso país nos últimos 30 anos.
Vimos ontem um dos maiores empresários do país, à frente de uma das maiores construtoras do mundo, apoiado pelo filho e por agentes do governo, enquanto encoberto pela imprensa, exibindo seus valores morais tortos, sua falta de compromisso com seu país, com seus conterrâneos, comigo, com você.
E ele fez isso sorrindo.
Foi como se eu tomasse uma bofetada.
O resumo dos depoimentos de Odebrecht é: “tudo bem se me convém”, a frase que, em 2009, sugeri que substituísse o “Ordem e Progresso” de nossa bandeira.
E eu estava certo.
Neste Brasil confuso, perdido, aviltado, onde a confiança morreu, eles ostentam o orgulho de serem corruptos.
E conseguem fazê-lo sorrindo.